segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Análises - Who watches the watchmen ?

Como seria o mundo real se realmente os heróis existissem?
Nos dias de hoje é muito difícil diluir a linha entre realidade e ficção nos quadrinhos. Cada vez mais criam-se mundos paralelos, sem nenhuma conexão com o real, e assim, heróis multiplicam-se em um mundo criado só para eles. Porém, em Watchmen, há uma inversão de todo este processo. Imagine se o super heróis houvessem intervido na Guerra Fria. Certamente o resultado seria outro, não ?





A trama se passa durante a Guerra Fria (1945 – 1991), um embate acima de tudo psicológico entre Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O clima era denso, as cidades destruídas e a população, traumatizada pela Segunda Guerra Mundial e a Grande Depressão, se encontrava a um passo de ver o botão do Apocalipse pressionado. Quem cederia e apertaria primeiro o botão? Quem poderia reverter o caos e assegurar a sobrevivência, não só humana, mas da vida no planeta?
É nesse cenário de dúvidas, incertezas e medo que Alan Moore, autor britânico de histórias em quadrinhos, pensa como seria um mundo em que super-heróis realmente existissem e intervissem de modo siginificativo na realidade militar, econômica, política e social do planeta. Dessa reflexão nasce, em 1986, anos finais da Guerra Fria, Watchmen, uma série de histórias em quadrinhos em 12 volumes, que conta a saga de vigilantes em declínio ante a sociedade.
A publicação traz como plano de fundo a insatisfação da população diante dos heróis, que têm vontades próprias e atuam acima do governo ou de qualquer medida legal, culminando na criação da lei Keene, que passa a perseguir heróis mascarados. Porém nem todos mascarados se curvam diante desta lei, e continuam a agir com a identidade preservada pelas máscaras.
Com a presença e intervenção dos super-heróis, os EUA vencem a guerra do Vietnã, o Watergate não acontece e Nixon se mantém no poder por muito mais tempo. A corrida armamentista da Guerra Fria é ainda mais acelerada diante da existência de um ser de tão grande porte e poderes tão inimagináveis. Nunca se falou tanto de uma evolução tecnológica. Um mundo com diferenças sutis mas extremamente significantes.
Em um mundo rondado pelo terror de uma Guerra com proporções aterradoras iminente, a presença dos super heróis se torna ainda mais questionável. São eles capazes de conter o caos? Watchmen nos prova que não. Não há fronteiras para se delimitar o horror, nem mesmo seres sobrehumanos seriam capazes disso.
Mas no mundo de Alan Moore, às voltas com a desordem urbana, o medo e as fragilidades impostas pelo terror, cabe aos super heróis o mantenimento da organização social. Moore não criou um mundo tão distante dos nossos. Por mais que heróis, reconfigurações políticas e militares, invenções tecnológicas, sejam diferentes a essência dos dois mundos é a mesma. No final de tudo, Watchmen é apenas um simulacro do mundo real, que em tempos de guerra anseia por super heróis.

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